domingo, 11 de dezembro de 2011

Moreninho, neguinho, pretinho: Trabalhando as diferenças na escola!


Objetivo Geral da Ação
Propiciar o emprego de argumentos e instrumentos didáticos contrários às várias formas de discriminação negativa e preconceito contra a cultura afro-brasileira no espaço escolar.

Justificativa
Discriminações negativas de gênero e raça são culturalmente aprendidas e propagadas na família, na escola, na sociedade, na mídia e em outros meios de comunicação.
O município de Santa Leopoldina é constituído majoritariamente por descendentes de imigrantes europeus, ou seja, pessoas brancas. De acordo com o Censo 2010 a população total de Santa Leopoldina é de 12.240 habitantes, desse total apenas 418 são negros, o que representa 3,41% da população.
Frente a predominância de brancos e pardos no município e considerando a especificidade do tema abordado neste módulo (raça) penso na viabilidade de um trabalho a ser realizado no campo escolar com vistas a valorização da cultura negra.
A Lei 10.639 de 09/01/2003 estabelece a obrigatoriedade do ensino da história da África e da cultura afro-brasileira o que favorece a oferta de disciplinas e oficinas que objetivam a formação de educadores no âmbito das relações étnico-raciais.
Ancorada nesta Lei, a proposta desse plano de ação consiste na formação continuada dos educadores/professores possibilitando a sensibilização e a constatação da necessidade de uma intervenção a ser construída coletivamente no espaço escolar tendo em vista o enfrentamento da discriminação racial.

Descrição da Ação
Por meio de oficinas, vivências e dinâmicas, oferecer subsídios teóricos e práticos aos professores, para que, em sala de aula, possam ter instrumentos que resgatem e valorizem a cultura negra e combata o racismo.

Cronograma
Para planejamento:
01 mês para planejar e preparar as oficinas com os professores e educadores.

Para execução:
1ª parte: 02 meses para executar as atividades planejadas com os professores, sendo um encontro semanal, perfazendo o total de 08 encontros.
2ª parte: 06 meses trabalhando o tema em sala de aula.

População Beneficiada
Educadores, professores, alunos e comunidade em geral.


Referência
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Censo 2010).
Lei Nº 8.069 DE 10/07/1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.
Lei Nº 10.639 de 09/01/2003. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm> Acesso em: 08 de dezembro de 2011.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Nota de apoio

Nós, participantes do Fórum de Homens Capixabas pelo Fim da Violência contra as Mulheres, vimos, por meio desta, manifestar apoio a Excelentíssima Senhora Ministra de Estado-Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, pelas iniciativas tomadas nas últimas semanas, a saber: representação ao Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (CONAR) solicitando a sustação da peça publicitária da empresa Hope Lingerie, carta de apoio da Subsecretaria Nacional de Enfrentamento a Violência contra as Mulheres ao Sindicato dos Metroviários de São Paulo com relação ao quadro “Metrô Zorra Total” e sugestão à Rede Globo de Televisão para inserção de informações sobre a Lei Maria da Penha (11.340/06) no caso de violência doméstica presente na novela “Fina Estampa”.
Compreendemos que o entendimento sobre os três casos é correto, bem como as ações tomadas que não ferem de forma alguma a liberdade de expressão ou criação. Em um momento histórico onde se discute uma relação mais igualitária entre homens e mulheres, onde se elimine a dicotomia masculino/dominante/superior x mulher/subordinado/inferior, onde se repensa a divisão sexual do trabalho que coloca a mulher com uma sobrecarga de atribuições dentro e fora do lar. Em um momento onde as estatísticas comprovam o crescimento acadêmico (já são maioria nos mais altos níveis de escolaridade) e em outros campos; onde se tem como representante maior do poder executivo uma PRESIDENTA; é inadmissível que com avanços consideráveis que custaram o esforço e, no extremo de alguns casos, a vida de tantas companheiras, ainda tenhamos uma marca que deseja se promover com base na visão da mulher como um ser dependente e que precisa de estratégias, inclusive sexuais, para conseguir conquistar algo de seu marido.
Este Fórum é contrário a banalização da violência e do abuso sexual contra qualquer ser humano, e principalmente contra as mulheres, parcela da população historicamente discriminada em nosso contexto social e cultural. Portanto, ressaltamos a importância de se questionar quadros de humor que inferiorizam qualquer ser humano, que legitimam qualquer tipo de violência ou abuso, que naturalizam atitudes que precisam ser vistas como criminosas e que prestam um desserviço a causa assumida por todos nós: a defesa de uma sociedade mais justa e igualitária sob todos os aspectos.
A história recente de nosso país nos apresentou a face mais dura do cerceamento da liberdade de expressão, e de forma alguma abriremos mão dessa liberdade! Entretanto, a liberdade conquistada precisa ser exercida com total responsabilidade e respeito aos direitos humanos! Historicamente, a Rede Globo de Televisão, em todos os ramos de atuação, tem trabalhado em benefício da classe dominante, defendendo sob a pecha da isenção jornalística/editorial, uma visão de mundo, uma forma de compreender a política, um tipo de relação familiar, enfim, tem demonstrado de maneira transparente ou velada a quem serve enquanto veículo de comunicação. Apesar de tudo isto, entendemos, em consonância mais uma vez com a SEPM, que a “novela das 8” pode cumprir um papel educativo importante à sociedade brasileira, já que tem nível altíssimo de audiência. Por isso, fazemos coro com a bela iniciativa da Excelentíssima Senhora Ministra em sugerir que aspectos da Lei Maria da Penha (11.340/06) sejam abordados na trama de “Fina Estampa”.
Os direitos das mulheres são conquistas históricas e precisam ser defendidos por todos/todas nós! Não são entendidos como benefício somente das mulheres, mas sim de toda a sociedade. O Fórum de Homens Capixabas pelo Fim da Violência contra as Mulheres engrossa as fileiras em defesa desses direitos, parabeniza e apóia a iniciativa da SEPM, representada pela capixaba Iriny Lopes, mas muito mais do que isso saúda a todas as mulheres que não se conformam e fazem do seu cotidiano uma luta incansável por direitos e oportunidades em um contexto ainda marcado pelo machismo.
 
Coordenação do Fórum de Homens Capixabas pelo Fim da Violência contra as Mulheres.
 
Abaixo alguns links sobre as ações tratadas nesta nota:
 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Trabalhando a igualdade de gênero no ambiente escolar




O artigo “A problematização dos saberes de gênero no ambiente escolar: uma proposta de intervenção à formação docente”, escrito por Fabiane Freire França - Doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá e Professora da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão e Geiva Carolina Calsa - Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas e Professora adjunta da Universidade Estadual de Maringá faz referência às representações sociais de gênero no âmbito escolar.
O artigo trata-se de uma pesquisa-ação participativa que foi realizada com 12 (doze) professores e professoras que atuam em turmas de 5ª e 6ª séries de uma escola pública da cidade de Sarandi/PR. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas. Destaca-se que os/as entrevistados são intrinsecamente influenciados pelas suas histórias de vida. Essas vivências, construídas em um contexto social, histórico e cultural trazem para a sua realidade uma concepção de gênero.
Desta forma como os padrões socialmente construídos determinam o ser menino e ser menina, sendo estas regras repassadas de geração por geração, naturalizando a mulher como ser subordinado, faz com que os/as professores, “involuntariamente”, com objetivo de atender os objetivos da escola e dos pais, reforcem estereótipos de gênero e não conseguem perceber que a problemática de gênero é fundamental para compreensão das relações que envolvem meninos e meninas na sociedade.
O resultado desta e de outras pesquisas recentes apontam que a questão de gênero é um tema pouco abordado no ambiente escolar, principalmente com as crianças e adolescentes e que a própria formação profissional não contribui para nortear uma melhor compreensão das questões relacionadas ao gênero, visto que 84% dos professores responderam na primeira fase da pesquisa que gênero restringe-se à diferença biológica dos sexos opostos.
Assim, propõe-se um trabalho com docentes no ambiente escolar.
Objetivo Geral da Ação
Repensar o conceito de gênero em um contexto sócio histórico que produz relações desiguais de poder;
Provocar reflexões critica entre as/os profissionais da educação, com relação à construção dicotômica de gênero em nossa sociedade na rígida definição dos papeis masculinos e femininos possíveis de gerar discriminações e preconceitos;
Ampliar o universo informacional dos docentes da rede de ensino municipal.
Descrição da Ação
Promover oficinas de sensibilização, dinâmicas em grupo e intervenções pedagógicas de forma a proporcionar vivências e momentos de discussão e reflexão sobre gênero no ambiente escolar e suas implicações na sociedade.
Cronograma
Para planejamento: 03 meses.
Para execução: 12 meses.
População Beneficiada
Professores e alunos da rede municipal de ensino de Santa Leopoldina.
Referência
FRANÇA, Fabiane Freire; CALSA, Geiva Carolina. A problematização dos saberes de gênero no ambiente escolar: uma proposta de intervenção à formação docente. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses/article/view/2874> acesso em 03 de outubro de 2011.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

1º Encontro de Mulheres do Território Juparanã

No dia 28/07/2011 foi realizado, no Mosteiro Zen Budista em Ibiraçu, o 1º Encontro de Mulheres do Território Juparanã em que eu tive a oportunidade de participar.
O território Juparanã compreende os municípios de Aracruz, Fundão, Ibiraçu, João Neiva, Sooretama, Rio Bananal e Linhares.
O encontro teve como objetivo promover discussões de gênero com foco nas trabalhadoras rurais, mulheres negras e indígenas, além de valorizar a diversidade existente nos sete municípios que compõe o território. No evento foram ministradas três palestras com os temas: 

  • Resgate histórico da caminhada das trabalhadoras rurais rumo a cidadania, sustentabilidade e gênero;
  • Políticas Públicas Contemporâneas para as mulheres trabalhadoras rurais;
  • Mulheres e a sucessão na agricultura familiar: tendências, desafios e perspectivas.
Após as palestras foram divididos grupos de trabalho para discutir propostas para serem levadas às Conferências de Políticas para Mulheres, nos âmbitos Municipais, Estadual e Federal.
Uma comissão foi montada para organizar uma caravana que levará representantes desses territórios (no qual “euzinha" fui convidada) para participar da Marcha das Margaridas, que acontecerá em Brasília/DF no mês de agosto.

Mulheres indígenas de Aracruz

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Mística Do Racismo: Narrativas De Estudantes Negras/Os Universitários Sobre Racismo Na Educação Formal

O artigo foi escrito por Diogo Marçal Cirqueira, Professor de geografia da Rede Municipal de Ensino de Goiânia, mestre em Geografia (IESA/UFG) e doutorando em Geografia (UFF). Trata-se de parte de uma pesquisa mais ampla realizada nos anos de 2007-2008 sob orientação do prof. Dr. Alex Ratts no Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (UFG).
O artigo faz referência às práticas racistas existentes no espaço da educação formal, evidenciando a desigualdade existente entre homens e mulheres e, especialmente, entre mulheres brancas e mulheres negras.
Para esse estudo, foi realizada uma entrevista com doze (12) estudantes universitárias negras, dos cursos de Biblioteconomia, Artes Visuais, Ciências Sociais, Educação Musical, Pedagogia, Economia, Nutrição, Medicina e Jornalismo, com idade entre 19 e 34 anos (prevalecendo a faixa etária entre 22 e 23 anos).
As entrevistadas são intrinsecamente influenciadas pelas suas histórias de vida. Essas vivências, construídas em um contexto social, histórico e cultural trazem para a sua realidade uma concepção da temática do racismo na educação formal.
O relato de uma estudante retrata a significação da escola para ela: “a escola para mim era um tormento (...) Eu tinha pavor imenso de escola.”
Dessa forma, é compreensível a evidência da evasão escolar entre estudantes negras/negros:
“a auto-rejeição, desenvolvimento de baixa auto-estima com ausência de reconhecimento de capacidade pessoal; rejeição ao seu outro igual racialmente; timidez, pouca ou nenhuma participação em sala de aula; ausência de reconhecimento positivo de seu pertencimento racial; dificuldades no processo de aprendizagem; recusa em ir à escola e, conseqüentemente, evasão escolar” (CAVALLEIRO, 2005, p. 12).

Uma segunda estudante relata que quem passa por esse nível de ensino é uma verdadeira sobrevivente:
Nas escolas quando você não tem uma condição financeira muito boa, as pessoas te excluem, não te deixam entrar nos grupinhos etc. E as pessoas que são negras e não tem dinheiro é mais complicado. Você sobrevive porque tem que sobreviver, você tem que suportar... Ser negro e ser pobre (grifo nosso) é muito complicado, e ter dignidade mais ainda. Porque as pessoas te olham com outro olhar... Primeiro, se você é negro as pessoas te olham e falam logo, “você é empregada doméstica, você é pedreiro...”, as pessoas tem dificuldade em aceitar que você é negro e é inteligente, que você tem dignidade e que você consegue as coisas sem fazer alguma coisa errada.

Em um terceiro relato é possível identificar o preconceito que inferioriza o negro e coloca em questão a sua capacidade intelectual e também a perversidade do racismo que se esconde em piadas e brincadeiras racistas e sexistas.
Quando eu entrei pelo vestibular não existia essa questão de cotas aqui, mas quando eu passei na UFG eu ouvi muita gente dizer que só passei porque foi por cotas. Eu perguntei, “por que, você acha que eu não tenho capacidade para passar na universidade?”. E quando a gente faz esse tipo de pergunta para as pessoas elas não conseguem responder, porque elas não conseguem assumir o preconceito. Só que falam através de piadas, de situações, mas quando a gente enfrenta elas, elas ficam sem argumentos... Eu escutei isso de um médico. Ele falou pensando que eu não estava ouvindo, aí eu perguntei, “por que você acha que eu passei só por causa das cotas, se quando eu passei não existia, não estava aprovado”, ai ele falou, “é brincadeira”, dando desculpa.

O autor afirma que é possível inferir a dimensão do sentimento que a atuação do racismo na escola proporciona às estudantes negras: “terror”, “medo”, “sofrimento”, “desânimo”, “hostilidade”.

REFERÊNCIA:

CERQUEIRA, Diogo Marçal. A Mística Do Racismo: Narrativas De Estudantes Negras/Os Universitários Sobre Racismo Na Educação Formal. Revista eletrônica do curso de pedagogia do Campus Jataí – UFG, V.2, N. 9, 2010. Disponível em: <http://revistas.jatai.ufg.br/index.php/itinerarius/article/view/1142> acesso em 27/07/2011.


domingo, 24 de julho de 2011

Relações de Raça e Gênero

As relações de gênero e raça, historicamente, têm um elo com a questão da cidadania e a emergência na criação de movimentos sociais a partir do final da década de 70, em todo o País. Esses movimentos criaram na população outra concepção de cidadania, baseada no trabalho, na vida e na luta social. Uma cidadania que busca enfrentar os problemas cotidianos da coletividade, da exploração, da miséria, da desigualdade social, presente na formação social brasileira.
A luta por direitos sociais acentua-se na década de 80, por meio de movimentos em prol de creches, de escolas, saúde, moradia, assim como da luta pelo exercício da cidadania e contra a discriminação de negros, homossexual e mulheres, bem como pela ecologia, pela paz, pelo direito das crianças.
O governo do Presidente Lula, em 2003, criou duas importantes secretarias com status de ministério, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial SEPPIR e a Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM, respondendo assim às reivindicações históricas dos movimentos de mulheres e negros para formulação de uma política sustentável de promoção da igualdade racial e de gênero. A implementação e a concretização dessas políticas governamentais passam a exigir um compromisso tanto do Governo, do Terceiro Setor e da sociedade civil na articulação das proposições políticas dos atores envolvidos.

Relação de Gênero e Raça na família.



Antes de falar sobre relação de gênero e raça no meio familiar, é necessário situar a família como o mais importante núcleo dentro da sociedade e como base para a construção das relações sociais,
Se antes tínhamos apenas o modelo patriarcal de família, onde o homem era o provedor, hoje já existem os novos arranjos familiares, em que as mulheres cada vez mais assumem o papel de provedoras do sustento da família, contrariando assim o antigo modelo. Essa inversão de papeis, a nosso ver, pode vir a ter contribuído para o crescimento da violência contra a mulher.
Nesse novo modelo de família, as mulheres se deparam com as múltiplas jornadas de trabalho que necessitam enfrentar, tendo em vista que tem que conciliar as responsabilidades da vida profissional com as responsabilidades domésticas, de mãe e, quando casadas, as de esposa.
Um estudo do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada realizado em 2006 apontou que os homens negros recebem metade do salário em relação aos homens brancos, e um dado alarmante é que, quando essa media é com relação às mulheres negras e brancas essa diferença de valores chega a um terço em desfavor as mulheres negras. Com tais diferenças e aliado ao fato das famílias serem mais homogêneas no que tange a cor, o estudo aponta ainda que 33,2% da população negra vivem abaixo da linha da pobreza, com uma renda per capta média de meio salário mínimo, sendo que entre os brancos esse valor é de 14,5%.
O Relatório “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça”, em sua terceira edição, apontou que o sexo e a cor ainda são os principais determinantes das desigualdades existentes no Brasil. O documento foi realizado com base em dados da Pnad - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizado entre 1996 e 2007, em parceria com a SPM - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, o IPEA e Unifem - Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher.
Apesar da evolução que se teve no que tange as políticas nas áreas de saúde, habitação, segurança e educação, quando se diz respeito das políticas de gênero e raça, tudo caminha lentamente para se chegar a uma sociedade verdadeiramente igualitária.



Preconceito Racial e Violência: Casos da Comunidade

Apresentaremos a seguir alguns casos de situações de preconceito racial e violência vividas pela população de Vitória/ES.
Antes, porém, se faz necessário informar que existem em Vitória órgãos especializados no atendimento as vítimas de discriminação e violência, como é o caso do Centro de Atendimento a Vitima de Violência e Discriminação – CAVVID.
O CAVVID é coordenado pela Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos - SEMCID e fica localizado no segundo piso da Casa do Cidadão sito à Avenida Maruípe, nº 2544, bairro Itararé, com atendimento de segunda a sexta-feira das 7 às 18 horas.
Para ser atendido no CAVVID não é preciso fazer o boletim de ocorrência, sendo esse necessário apenas nos casos de abertura de processos judiciais. No CAVVID a população atendida recebe atendimento psicológico, social, orientação jurídica, e mediação de conflito, de forma a buscar uma solução pacífica do caso, além de ser encaminhados, quando necessário, para serviços complementares de amparo e proteção.
Em alguns bairros também existem órgãos que prestam atendimento às vitimas de violência e discriminação, é o caso da Associação de Moradores do Bairro Consolação – AMBC, que presta um serviço de orientação e encaminhamento aos serviços do município.
Outros lugares onde é possível buscar ajuda e orientação é no CONEGRO – Conselho Municipal do Negro e no COMUM – Conselho Municipal da Mulher, ambas funcionam na sede da SEMCID, como também na Delegacia Especializada em Atendimento a Mulher – DEAM, na Rua Portinari, s/nº Bairro Santa Luiza, Vitória.
Em Vitória assim como nos demais municípios do Espírito Santo, ainda não existe uma Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância – DECRADI – a exemplo de São Paulo.
  • Telefones Importantes:
·         CAVVID – 33825464/3382-6465
·         DEAM Vitória - 3137-9115
·         CONEGRO – 2282-5544
·         COMUM – 3382- 6703


RELATOS DE CASOS ATENDIDOS PELO CAVVID
Caso 01:
Uma munícipe compareceu ao serviço do CAVVID a fim de buscar apoio e orientação quanto a um bilhete que recebeu de seu antigo empregador que continha os valores rescisórios de sua prestação de serviço no qual a identificava como “negra” e não pelo nome. O que lhe chamou mais atenção e que lhe causou estranheza é que no mesmo bilhete continha o nome correto de sua amiga de cor clara e ela sendo referida pela sua raça. Achou o bilhete ofensivo e considerou tal ação preconceituosa.

Caso 02:
A Srª X é casada há 11 anos, tem dois filhos deste relacionamento e mora em cima da casa da sogra. O que a trouxe ao Cavvid foi uma discussão com o irmão do marido dela. Afirma que nunca teve um bom relacionamento com o cunhado, mas que na ultima discussão ambos se agrediram verbalmente, na qual ele fez referência ao fato dela ser negra e ela fez menção a orientação sexual delem.

RELATOS DE CASOS OCORRIDOS NA COMUNIDADE DE CONSOLAÇÃO
Caso 1:
M, aluna negra de uma escola de dança do município de Vitória entrou na escola como bolsista, após dois anos destacou-se a melhor dançarina da turma.
Convidada a participar de um concurso em que a vencedora iria participar de várias apresentações pelas capitais do país, foi desclassificada na última etapa e uma das juradas explicou que achava que ela teria muito sucesso como dançarina, mas que não seria desta vez por não se enquadrar no padrão. Teria que ser branca e não ter cabelos encaracolados.

Caso 2:
Uma professora da rede municipal de ensino procurou a Associação de Moradores do Bairro Consolação - AMBC para solicitar ajuda na resolução de uma situação constrangedora ocorrida em sala de aula, uma vez que a diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental bem como a equipe pedagógica e a família já haviam sido informadas da gravidade da situação.
Relato da professora: Uma aluna moradora da parte baixa da comunidade agredia verbalmente toda a turma com xingamentos dizendo que são macacos do morro por serem na maioria negros e moradores dos morros da redondeza (Morro da Floresta, Morro do Jaburu e Morro da Gurigica) informou também que um dos alunos sentindo-se muito magoado disse que iria avisar aos traficantes do morro para mandar dar uma surra na garota, após várias conversas sem sucesso com a aluna e muito assustada com a situação a professora decidiu marcar reunião com os pais fora do ambiente escolar, e para sua surpresa descobriu que a família da aluna se referia aos moradores da região exatamente como a aluna se referia aos colegas na sala de aula, eram racistas ao extremo, disseram que odiavam morar naquele lugar que só tinha preto ladrão, que assim que pudessem iriam se mudar dali, pois sempre moraram em Jardim da Penha e lá era diferente, só se mudaram para esta favela porque o pai perdeu o emprego e não tiveram condições de se manterem lá.

ANÁLISE DOS CASOS RELATADOS
A lei que rege nosso país declara que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, dessa forma observamos que o princípio da igualdade é consagrado constitucionalmente, o que caracteriza um grande avanço na luta contra a discriminação das minorias, em um país que historicamente segregou e estigmatizou alguns segmentos da sociedade, em especial o povo negro e a mulher.
O racismo, por sua vez, é tratado na Constituição da República, em leis federais, estaduais e Municipais, buscando-se nessas legislações a sua punição bem como a prevenção de que tais práticas aconteçam. Entretanto, é possível verificar que apesar dos avanços e conquistas, há uma distância entre a previsão legal e a prática cotidiana.
A discriminação é visível em todos os segmentos da nossa sociedade, como visto nos relatos dos casos pesquisados, educação, mercado de trabalho, na família, e outras atitudes cotidianas que demonstram que o segregacionismo brasileiro, mesmo que de forma mascarada, e não menos cruel, apresenta-se no universo das relações sociais, reflexo de uma sociedade que ainda não rompeu com os princípios eurocêntricos.
Nesse sentido, a partir dos relatos e do estudo realizado, pode-se observar que as transformações sociais necessárias para construção de uma sociedade igualitária, não serão possíveis de forma isolada e com ações de curta duração. Por outro giro, é valido ressaltar que os conceitos de gênero, raça e etnia deveriam ser trabalhados na educação de base, em uma perspectiva da valorização da pessoa humana, trabalhando a diversidade dos sujeitos que convivem no espaço escolar, a fim de desconstruir os estereótipos e os estigmas que foram atribuídos historicamente a alguns grupos sociais.
Para alcançarmos mudança efetiva, serão imprescindíveis políticas públicas conseqüentes, intersetoriais e articuladas, que contemplem todas as dimensões da vida destes segmentos, que historicamente tem estado à margem do desenvolvimento social e econômico do país, portanto, mais que uma questão de educação, cultura e cidadania, a “igualdade entre os homens” é uma questão de direitos humanos.


REFERÊNCIAS: