quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Mística Do Racismo: Narrativas De Estudantes Negras/Os Universitários Sobre Racismo Na Educação Formal

O artigo foi escrito por Diogo Marçal Cirqueira, Professor de geografia da Rede Municipal de Ensino de Goiânia, mestre em Geografia (IESA/UFG) e doutorando em Geografia (UFF). Trata-se de parte de uma pesquisa mais ampla realizada nos anos de 2007-2008 sob orientação do prof. Dr. Alex Ratts no Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (UFG).
O artigo faz referência às práticas racistas existentes no espaço da educação formal, evidenciando a desigualdade existente entre homens e mulheres e, especialmente, entre mulheres brancas e mulheres negras.
Para esse estudo, foi realizada uma entrevista com doze (12) estudantes universitárias negras, dos cursos de Biblioteconomia, Artes Visuais, Ciências Sociais, Educação Musical, Pedagogia, Economia, Nutrição, Medicina e Jornalismo, com idade entre 19 e 34 anos (prevalecendo a faixa etária entre 22 e 23 anos).
As entrevistadas são intrinsecamente influenciadas pelas suas histórias de vida. Essas vivências, construídas em um contexto social, histórico e cultural trazem para a sua realidade uma concepção da temática do racismo na educação formal.
O relato de uma estudante retrata a significação da escola para ela: “a escola para mim era um tormento (...) Eu tinha pavor imenso de escola.”
Dessa forma, é compreensível a evidência da evasão escolar entre estudantes negras/negros:
“a auto-rejeição, desenvolvimento de baixa auto-estima com ausência de reconhecimento de capacidade pessoal; rejeição ao seu outro igual racialmente; timidez, pouca ou nenhuma participação em sala de aula; ausência de reconhecimento positivo de seu pertencimento racial; dificuldades no processo de aprendizagem; recusa em ir à escola e, conseqüentemente, evasão escolar” (CAVALLEIRO, 2005, p. 12).

Uma segunda estudante relata que quem passa por esse nível de ensino é uma verdadeira sobrevivente:
Nas escolas quando você não tem uma condição financeira muito boa, as pessoas te excluem, não te deixam entrar nos grupinhos etc. E as pessoas que são negras e não tem dinheiro é mais complicado. Você sobrevive porque tem que sobreviver, você tem que suportar... Ser negro e ser pobre (grifo nosso) é muito complicado, e ter dignidade mais ainda. Porque as pessoas te olham com outro olhar... Primeiro, se você é negro as pessoas te olham e falam logo, “você é empregada doméstica, você é pedreiro...”, as pessoas tem dificuldade em aceitar que você é negro e é inteligente, que você tem dignidade e que você consegue as coisas sem fazer alguma coisa errada.

Em um terceiro relato é possível identificar o preconceito que inferioriza o negro e coloca em questão a sua capacidade intelectual e também a perversidade do racismo que se esconde em piadas e brincadeiras racistas e sexistas.
Quando eu entrei pelo vestibular não existia essa questão de cotas aqui, mas quando eu passei na UFG eu ouvi muita gente dizer que só passei porque foi por cotas. Eu perguntei, “por que, você acha que eu não tenho capacidade para passar na universidade?”. E quando a gente faz esse tipo de pergunta para as pessoas elas não conseguem responder, porque elas não conseguem assumir o preconceito. Só que falam através de piadas, de situações, mas quando a gente enfrenta elas, elas ficam sem argumentos... Eu escutei isso de um médico. Ele falou pensando que eu não estava ouvindo, aí eu perguntei, “por que você acha que eu passei só por causa das cotas, se quando eu passei não existia, não estava aprovado”, ai ele falou, “é brincadeira”, dando desculpa.

O autor afirma que é possível inferir a dimensão do sentimento que a atuação do racismo na escola proporciona às estudantes negras: “terror”, “medo”, “sofrimento”, “desânimo”, “hostilidade”.

REFERÊNCIA:

CERQUEIRA, Diogo Marçal. A Mística Do Racismo: Narrativas De Estudantes Negras/Os Universitários Sobre Racismo Na Educação Formal. Revista eletrônica do curso de pedagogia do Campus Jataí – UFG, V.2, N. 9, 2010. Disponível em: <http://revistas.jatai.ufg.br/index.php/itinerarius/article/view/1142> acesso em 27/07/2011.


Nenhum comentário:

Postar um comentário