sexta-feira, 29 de julho de 2011

1º Encontro de Mulheres do Território Juparanã

No dia 28/07/2011 foi realizado, no Mosteiro Zen Budista em Ibiraçu, o 1º Encontro de Mulheres do Território Juparanã em que eu tive a oportunidade de participar.
O território Juparanã compreende os municípios de Aracruz, Fundão, Ibiraçu, João Neiva, Sooretama, Rio Bananal e Linhares.
O encontro teve como objetivo promover discussões de gênero com foco nas trabalhadoras rurais, mulheres negras e indígenas, além de valorizar a diversidade existente nos sete municípios que compõe o território. No evento foram ministradas três palestras com os temas: 

  • Resgate histórico da caminhada das trabalhadoras rurais rumo a cidadania, sustentabilidade e gênero;
  • Políticas Públicas Contemporâneas para as mulheres trabalhadoras rurais;
  • Mulheres e a sucessão na agricultura familiar: tendências, desafios e perspectivas.
Após as palestras foram divididos grupos de trabalho para discutir propostas para serem levadas às Conferências de Políticas para Mulheres, nos âmbitos Municipais, Estadual e Federal.
Uma comissão foi montada para organizar uma caravana que levará representantes desses territórios (no qual “euzinha" fui convidada) para participar da Marcha das Margaridas, que acontecerá em Brasília/DF no mês de agosto.

Mulheres indígenas de Aracruz

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Mística Do Racismo: Narrativas De Estudantes Negras/Os Universitários Sobre Racismo Na Educação Formal

O artigo foi escrito por Diogo Marçal Cirqueira, Professor de geografia da Rede Municipal de Ensino de Goiânia, mestre em Geografia (IESA/UFG) e doutorando em Geografia (UFF). Trata-se de parte de uma pesquisa mais ampla realizada nos anos de 2007-2008 sob orientação do prof. Dr. Alex Ratts no Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (UFG).
O artigo faz referência às práticas racistas existentes no espaço da educação formal, evidenciando a desigualdade existente entre homens e mulheres e, especialmente, entre mulheres brancas e mulheres negras.
Para esse estudo, foi realizada uma entrevista com doze (12) estudantes universitárias negras, dos cursos de Biblioteconomia, Artes Visuais, Ciências Sociais, Educação Musical, Pedagogia, Economia, Nutrição, Medicina e Jornalismo, com idade entre 19 e 34 anos (prevalecendo a faixa etária entre 22 e 23 anos).
As entrevistadas são intrinsecamente influenciadas pelas suas histórias de vida. Essas vivências, construídas em um contexto social, histórico e cultural trazem para a sua realidade uma concepção da temática do racismo na educação formal.
O relato de uma estudante retrata a significação da escola para ela: “a escola para mim era um tormento (...) Eu tinha pavor imenso de escola.”
Dessa forma, é compreensível a evidência da evasão escolar entre estudantes negras/negros:
“a auto-rejeição, desenvolvimento de baixa auto-estima com ausência de reconhecimento de capacidade pessoal; rejeição ao seu outro igual racialmente; timidez, pouca ou nenhuma participação em sala de aula; ausência de reconhecimento positivo de seu pertencimento racial; dificuldades no processo de aprendizagem; recusa em ir à escola e, conseqüentemente, evasão escolar” (CAVALLEIRO, 2005, p. 12).

Uma segunda estudante relata que quem passa por esse nível de ensino é uma verdadeira sobrevivente:
Nas escolas quando você não tem uma condição financeira muito boa, as pessoas te excluem, não te deixam entrar nos grupinhos etc. E as pessoas que são negras e não tem dinheiro é mais complicado. Você sobrevive porque tem que sobreviver, você tem que suportar... Ser negro e ser pobre (grifo nosso) é muito complicado, e ter dignidade mais ainda. Porque as pessoas te olham com outro olhar... Primeiro, se você é negro as pessoas te olham e falam logo, “você é empregada doméstica, você é pedreiro...”, as pessoas tem dificuldade em aceitar que você é negro e é inteligente, que você tem dignidade e que você consegue as coisas sem fazer alguma coisa errada.

Em um terceiro relato é possível identificar o preconceito que inferioriza o negro e coloca em questão a sua capacidade intelectual e também a perversidade do racismo que se esconde em piadas e brincadeiras racistas e sexistas.
Quando eu entrei pelo vestibular não existia essa questão de cotas aqui, mas quando eu passei na UFG eu ouvi muita gente dizer que só passei porque foi por cotas. Eu perguntei, “por que, você acha que eu não tenho capacidade para passar na universidade?”. E quando a gente faz esse tipo de pergunta para as pessoas elas não conseguem responder, porque elas não conseguem assumir o preconceito. Só que falam através de piadas, de situações, mas quando a gente enfrenta elas, elas ficam sem argumentos... Eu escutei isso de um médico. Ele falou pensando que eu não estava ouvindo, aí eu perguntei, “por que você acha que eu passei só por causa das cotas, se quando eu passei não existia, não estava aprovado”, ai ele falou, “é brincadeira”, dando desculpa.

O autor afirma que é possível inferir a dimensão do sentimento que a atuação do racismo na escola proporciona às estudantes negras: “terror”, “medo”, “sofrimento”, “desânimo”, “hostilidade”.

REFERÊNCIA:

CERQUEIRA, Diogo Marçal. A Mística Do Racismo: Narrativas De Estudantes Negras/Os Universitários Sobre Racismo Na Educação Formal. Revista eletrônica do curso de pedagogia do Campus Jataí – UFG, V.2, N. 9, 2010. Disponível em: <http://revistas.jatai.ufg.br/index.php/itinerarius/article/view/1142> acesso em 27/07/2011.


domingo, 24 de julho de 2011

Relações de Raça e Gênero

As relações de gênero e raça, historicamente, têm um elo com a questão da cidadania e a emergência na criação de movimentos sociais a partir do final da década de 70, em todo o País. Esses movimentos criaram na população outra concepção de cidadania, baseada no trabalho, na vida e na luta social. Uma cidadania que busca enfrentar os problemas cotidianos da coletividade, da exploração, da miséria, da desigualdade social, presente na formação social brasileira.
A luta por direitos sociais acentua-se na década de 80, por meio de movimentos em prol de creches, de escolas, saúde, moradia, assim como da luta pelo exercício da cidadania e contra a discriminação de negros, homossexual e mulheres, bem como pela ecologia, pela paz, pelo direito das crianças.
O governo do Presidente Lula, em 2003, criou duas importantes secretarias com status de ministério, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial SEPPIR e a Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM, respondendo assim às reivindicações históricas dos movimentos de mulheres e negros para formulação de uma política sustentável de promoção da igualdade racial e de gênero. A implementação e a concretização dessas políticas governamentais passam a exigir um compromisso tanto do Governo, do Terceiro Setor e da sociedade civil na articulação das proposições políticas dos atores envolvidos.

Relação de Gênero e Raça na família.



Antes de falar sobre relação de gênero e raça no meio familiar, é necessário situar a família como o mais importante núcleo dentro da sociedade e como base para a construção das relações sociais,
Se antes tínhamos apenas o modelo patriarcal de família, onde o homem era o provedor, hoje já existem os novos arranjos familiares, em que as mulheres cada vez mais assumem o papel de provedoras do sustento da família, contrariando assim o antigo modelo. Essa inversão de papeis, a nosso ver, pode vir a ter contribuído para o crescimento da violência contra a mulher.
Nesse novo modelo de família, as mulheres se deparam com as múltiplas jornadas de trabalho que necessitam enfrentar, tendo em vista que tem que conciliar as responsabilidades da vida profissional com as responsabilidades domésticas, de mãe e, quando casadas, as de esposa.
Um estudo do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada realizado em 2006 apontou que os homens negros recebem metade do salário em relação aos homens brancos, e um dado alarmante é que, quando essa media é com relação às mulheres negras e brancas essa diferença de valores chega a um terço em desfavor as mulheres negras. Com tais diferenças e aliado ao fato das famílias serem mais homogêneas no que tange a cor, o estudo aponta ainda que 33,2% da população negra vivem abaixo da linha da pobreza, com uma renda per capta média de meio salário mínimo, sendo que entre os brancos esse valor é de 14,5%.
O Relatório “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça”, em sua terceira edição, apontou que o sexo e a cor ainda são os principais determinantes das desigualdades existentes no Brasil. O documento foi realizado com base em dados da Pnad - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizado entre 1996 e 2007, em parceria com a SPM - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, o IPEA e Unifem - Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher.
Apesar da evolução que se teve no que tange as políticas nas áreas de saúde, habitação, segurança e educação, quando se diz respeito das políticas de gênero e raça, tudo caminha lentamente para se chegar a uma sociedade verdadeiramente igualitária.



Preconceito Racial e Violência: Casos da Comunidade

Apresentaremos a seguir alguns casos de situações de preconceito racial e violência vividas pela população de Vitória/ES.
Antes, porém, se faz necessário informar que existem em Vitória órgãos especializados no atendimento as vítimas de discriminação e violência, como é o caso do Centro de Atendimento a Vitima de Violência e Discriminação – CAVVID.
O CAVVID é coordenado pela Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos - SEMCID e fica localizado no segundo piso da Casa do Cidadão sito à Avenida Maruípe, nº 2544, bairro Itararé, com atendimento de segunda a sexta-feira das 7 às 18 horas.
Para ser atendido no CAVVID não é preciso fazer o boletim de ocorrência, sendo esse necessário apenas nos casos de abertura de processos judiciais. No CAVVID a população atendida recebe atendimento psicológico, social, orientação jurídica, e mediação de conflito, de forma a buscar uma solução pacífica do caso, além de ser encaminhados, quando necessário, para serviços complementares de amparo e proteção.
Em alguns bairros também existem órgãos que prestam atendimento às vitimas de violência e discriminação, é o caso da Associação de Moradores do Bairro Consolação – AMBC, que presta um serviço de orientação e encaminhamento aos serviços do município.
Outros lugares onde é possível buscar ajuda e orientação é no CONEGRO – Conselho Municipal do Negro e no COMUM – Conselho Municipal da Mulher, ambas funcionam na sede da SEMCID, como também na Delegacia Especializada em Atendimento a Mulher – DEAM, na Rua Portinari, s/nº Bairro Santa Luiza, Vitória.
Em Vitória assim como nos demais municípios do Espírito Santo, ainda não existe uma Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância – DECRADI – a exemplo de São Paulo.
  • Telefones Importantes:
·         CAVVID – 33825464/3382-6465
·         DEAM Vitória - 3137-9115
·         CONEGRO – 2282-5544
·         COMUM – 3382- 6703


RELATOS DE CASOS ATENDIDOS PELO CAVVID
Caso 01:
Uma munícipe compareceu ao serviço do CAVVID a fim de buscar apoio e orientação quanto a um bilhete que recebeu de seu antigo empregador que continha os valores rescisórios de sua prestação de serviço no qual a identificava como “negra” e não pelo nome. O que lhe chamou mais atenção e que lhe causou estranheza é que no mesmo bilhete continha o nome correto de sua amiga de cor clara e ela sendo referida pela sua raça. Achou o bilhete ofensivo e considerou tal ação preconceituosa.

Caso 02:
A Srª X é casada há 11 anos, tem dois filhos deste relacionamento e mora em cima da casa da sogra. O que a trouxe ao Cavvid foi uma discussão com o irmão do marido dela. Afirma que nunca teve um bom relacionamento com o cunhado, mas que na ultima discussão ambos se agrediram verbalmente, na qual ele fez referência ao fato dela ser negra e ela fez menção a orientação sexual delem.

RELATOS DE CASOS OCORRIDOS NA COMUNIDADE DE CONSOLAÇÃO
Caso 1:
M, aluna negra de uma escola de dança do município de Vitória entrou na escola como bolsista, após dois anos destacou-se a melhor dançarina da turma.
Convidada a participar de um concurso em que a vencedora iria participar de várias apresentações pelas capitais do país, foi desclassificada na última etapa e uma das juradas explicou que achava que ela teria muito sucesso como dançarina, mas que não seria desta vez por não se enquadrar no padrão. Teria que ser branca e não ter cabelos encaracolados.

Caso 2:
Uma professora da rede municipal de ensino procurou a Associação de Moradores do Bairro Consolação - AMBC para solicitar ajuda na resolução de uma situação constrangedora ocorrida em sala de aula, uma vez que a diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental bem como a equipe pedagógica e a família já haviam sido informadas da gravidade da situação.
Relato da professora: Uma aluna moradora da parte baixa da comunidade agredia verbalmente toda a turma com xingamentos dizendo que são macacos do morro por serem na maioria negros e moradores dos morros da redondeza (Morro da Floresta, Morro do Jaburu e Morro da Gurigica) informou também que um dos alunos sentindo-se muito magoado disse que iria avisar aos traficantes do morro para mandar dar uma surra na garota, após várias conversas sem sucesso com a aluna e muito assustada com a situação a professora decidiu marcar reunião com os pais fora do ambiente escolar, e para sua surpresa descobriu que a família da aluna se referia aos moradores da região exatamente como a aluna se referia aos colegas na sala de aula, eram racistas ao extremo, disseram que odiavam morar naquele lugar que só tinha preto ladrão, que assim que pudessem iriam se mudar dali, pois sempre moraram em Jardim da Penha e lá era diferente, só se mudaram para esta favela porque o pai perdeu o emprego e não tiveram condições de se manterem lá.

ANÁLISE DOS CASOS RELATADOS
A lei que rege nosso país declara que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, dessa forma observamos que o princípio da igualdade é consagrado constitucionalmente, o que caracteriza um grande avanço na luta contra a discriminação das minorias, em um país que historicamente segregou e estigmatizou alguns segmentos da sociedade, em especial o povo negro e a mulher.
O racismo, por sua vez, é tratado na Constituição da República, em leis federais, estaduais e Municipais, buscando-se nessas legislações a sua punição bem como a prevenção de que tais práticas aconteçam. Entretanto, é possível verificar que apesar dos avanços e conquistas, há uma distância entre a previsão legal e a prática cotidiana.
A discriminação é visível em todos os segmentos da nossa sociedade, como visto nos relatos dos casos pesquisados, educação, mercado de trabalho, na família, e outras atitudes cotidianas que demonstram que o segregacionismo brasileiro, mesmo que de forma mascarada, e não menos cruel, apresenta-se no universo das relações sociais, reflexo de uma sociedade que ainda não rompeu com os princípios eurocêntricos.
Nesse sentido, a partir dos relatos e do estudo realizado, pode-se observar que as transformações sociais necessárias para construção de uma sociedade igualitária, não serão possíveis de forma isolada e com ações de curta duração. Por outro giro, é valido ressaltar que os conceitos de gênero, raça e etnia deveriam ser trabalhados na educação de base, em uma perspectiva da valorização da pessoa humana, trabalhando a diversidade dos sujeitos que convivem no espaço escolar, a fim de desconstruir os estereótipos e os estigmas que foram atribuídos historicamente a alguns grupos sociais.
Para alcançarmos mudança efetiva, serão imprescindíveis políticas públicas conseqüentes, intersetoriais e articuladas, que contemplem todas as dimensões da vida destes segmentos, que historicamente tem estado à margem do desenvolvimento social e econômico do país, portanto, mais que uma questão de educação, cultura e cidadania, a “igualdade entre os homens” é uma questão de direitos humanos.


REFERÊNCIAS:


Caso de racismo no município de Vitória

Pesquisa revela um país rico em preconceito
 (A GAZETA, 23 de julho de 2011)

Apesar de garantias da lei, os negros ainda enfrentam forte discriminação no país. Mais de 70% dos brasileiros reconhecem que há preconceito no mercado de trabalho.

Em Vitória, quatro denúncias por ano
Nos últimos sete anos, a Gerências de políticas de promoção de igualdade racial de Vitória registrou 30 casos de racismo, uma média de quatro por ano. São situações motivadas pela discriminação no comercio e até  no atendimento em hospitais. Mas o número de casos contabilizados não reflete na realidade, porque muitas pessoas não registram queixas nas delegacias.
São casos como o de um adolescente proibido de entrar num hipermercado, porque estava descalço; ou de uma mulher cujo filho foi proibido de brincar num espaço de diversão com o argumento de que o local estava fechado; ou da senhora que estava bebendo num bar com as amigas e foi expulsa do lugar. Todos tinham em comum o fato de serem negros.
Segundo a gerente do setor, Vanda de Souza vieira, são exemplo da “não aceitação de que o outro - no caso a pessoa discriminada – é igual, que tem a mesma potencialidade e direito”. Ela acrescentou o preconceito caminha com a pigmentação da pele. “Quanto mais preta, maior a discriminação”, explica ela. Um quadro que só vai mudar com políticas que impeçam atitudes racistas.
Aos que vivenciarem essas situações, Vanda orienta que registrem um boletim de ocorrência. (com informações de Brunelli Duarte).


RACISMO


É comum presenciarmos ainda hoje atitudes racistas, casos como a abordagem policial seleta a negros e a pessoas mal vestidas, discriminação entre “patroas” e empregadas domésticas negras entre outras, são exemplos dessa cruel realidade.

Racismo é uma tendência sociopolítica ou simples atitude social ou particular, que defende a superioridade de determinadas raças humanas sobre outras e conseqüente supremacia em relação às raças consideradas inferiores.

A história do mundo moderno é também a história da questão racial, um dos dilemas da modernidade. Ao lado de outros dilemas, também importantes, como as guerras religiosas, as desigualdades masculinas – feminino, as contradições de classes sociais, a questão racial revela-se um desafio constante, tanto para indivíduos e coletividades como para cientistas sociais, filósofos e artistas. Uns e outros, com frequência, são desafiados a viver situações e/ou interpretá-las, sem alcançar sua explicação ou mesmo resolvê-las. São muitas e recorrentes as tensões e contradições em termos de preconceitos, xenofobias, etnicismos e racismos; multiplicadas ou somadas no decorrer dos anos, décadas e séculos, nos diferentes países.

A questão racial apresenta-se como um desafio atual, mas trata-se de um conflito muito antigo. Modifica-se ao acaso das situações, das formas, de sociabilidade e dos jogos das forças sociais, mas reafirma-se continuamente, modificada, mas persistente. Esse é o enigma com o qual se defrontam uns e outros, intolerantes e tolerantes, discriminados e preconceituosos, subordinados e dominantes, em todo o mundo. Mais do que tudo isso, a questão racial revela, como funciona a sociedade, compreendendo a identidade e a alteridade, a diversidade e a desigualdade, a cooperação e a hierarquização, a dominação e a alienação. Esses dilemas demonstram que o "desencantamento do mundo" como metáfora do esclarecimento e da emancipação, continua a serem desafiadas por preconceitos e superstições, intolerâncias e racismos, irracionalismos, interesses e ideologias.
 

Violência de Gênero no município de Vitória


O censo do IBGE de 2010 contabilizou 190.755.799 habitantes no Brasil, sendo que a população feminina brasileira ultrapassou em 3,9 milhões a masculina totalizando 97.348.809 mulheres e 93.406.990 homens. De acordo com a Organização das nações Unidas (ONU) as mulheres usufruem de muitos direitos humanos, mas ainda assim, cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida (violência de gênero, familiar, física, institucional, doméstica, moral, patrimonial, psicológica, sexual entre outras.). No Brasil essa violência tem crescido a cada ano. No município de Vitória-ES o total de mulheres chega a 173.853, e o índice de violência contra a mulher tem aumentado anualmente neste município de acordo com informações do Centro de Atendimento às Vítimas de Violência e Discriminação (Cavvid), no período de 2010 a 2011:
Acolhimentos femininos/ raça 2010
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
JUL
AGO
SET
OUT
NOV
DEZ
TOTAL
BRANCA
7
7
14
3
2
2
4
6
2
1
2
1
51
PRETA
10
7
7
5
8
12
12
4
6
2
1
3
77
PARDA
30
17
31
5
14
14
27
17
10
8
4
5
182
AMARELA
1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
1
INDÍGINA
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
ND
3
3
3
0
9
16
8
0
1
3
2
0
48
TOTAL
51
34
55
13
33
44
51
27
19
14
9
9
359

Acolhimento femininos/ raça 2011
JAN
FEV
MAR
ABR
MAI
JUN
TOTAL
BRANCA
6
4
5
4
9
11
39
PRETA
4
7
7
4
9
17
48
PARDA
22
18
26
19
26
56
167
AMARELA
0
0
0
0
0
0
0
INDÍGINA
0
0
0
0
0
1
1
ND
1
3
1
2
0
7
14
TOTAL
33
32
39
29
24
92
269


Vejamos alguns casos de Violência contra a mulher no Município de Vitória-ES:

Homem tenta matar mulher grávida com martelada (16/07/2011 às 08h40 - Redação Folha Vitória- Victor melo)
Um homem tentou matar a esposa grávida com um golpe de martelo na cabeça no bairro Ilha das Caieiras, em Vitória. A vítima já havia sofrido agressões anteriormente e, segundo informações da Delegacia da Mulher da capital, não só o rapaz, mas toda a família dele é violenta com a gestante. Os ataques começaram após a mulher denunciar o envolvimento deles com drogas na região.
Após ser agredida, a vítima resolveu se mudar para a casa da mãe. Mesmo assim a perseguição não parou. O marido foi até o local, em Cariacica, por diversas vezes e inclusive ameaçou matar toda a família da grávida após agredir o irmão da gestante com coronhadas de revólver. Todos resolveram fugir do local. Foi quando o agressor ligou para a esposa e disse que queimaria a casa da mãe dela, caso não voltasse para a Ilha das Caieiras.
A grávida resolveu retornar para a casa dele após a ameaça de incêndio. Quando chegou foi agredida com um golpe de martelo na cabeça, socos e teve um arranhão no pescoço. Apesar da violência, a grávida passa bem e o bebê não foi afetado.

Grande São Pedro, Resistência e Bonfim registram 50% das ocorrências de violência contra mulher em Vitória (16/07/2011 às 08h40 - Redação Folha Vitória- Victor melo)
A região da Grande São Pedro, Resistência e o bairro Bonfim são os locais que mais registram violência contra a mulher em Vitória. Ao todo, a proporção em relação aos outros bairros da capital é de 50%. A informação é da Delegacia da Mulher (Deam). A maioria dos casos está relacionado com o tráfico e o consumo de drogas, além do consumo de álcool.
A delegada titular da Deam de Vitória, Arminda Rodrigues, acredita que a falta de educação também é um dos problemas das regiões. "A Grande São Pedro é realmente onde existe o maior índice por causa de bebida, uso de drogas, condições sociais, é um aglomerado que não tem muitos recursos educacionais, então a gente tem muita ocorrência em Resistência, São Pedro e no Bonfim", disse.
Com a criação da Lei Maria da Penha as mulheres criaram mais coragem de denunciar os parceiros. A delegada garante que isso realmente acontece e são elas que procuram a polícia. "Normalmente elas vão e denunciam quando sofrem ameaças e agressões. Porque tem muito envolvimento com o tráfico, ou são usuários de drogas, e geralmente elas ficam com muito medo", disse Arminda.

REFERÊNCIAS:
Prefeitura Municipal de Vitória/SEMCID/SUB-PCPV